21 de janeiro de 2015

Rolling Stones – 50 e Contando

rollingChegar aos cinquenta sendo adorado, venerado, seguido e admirado por muitos é raro. No mundo da música é ainda mais. Isso porque ter uma carreira de tanto tempo sem cair na repetição, no ostracismo, e sem que – no caso de uma banda – um desentendimento forte cause o rompimento entre seus integrantes, é praticamente impossível.

Por isso não são necessários mais do que os dedos de uma mão para contar quantas bandas de rock conseguiram alcançar esse feito. Justamente porque só uma delas chegou ao marco de cinquenta anos de carreira ainda na ativa: os Rolling Stones.

Contudo, o grupo liderado por Mick Jagger não teria o título de banda há mais tempo na ativa se não fosse pelo fato dos Bee Gees terem decidido declarar seu fi m após a morte de Maurice Gibb, um dos três irmãos que formavam o grupo. Eles fariam 56 anos de carreira em 2014.

Os integrantes você já conhece: Mick Jagger (nos vocais), Keith Richards (guitarra e vocais), Charlie Watts (bateria) e Ron Wood (guitarra e vocais). A banda também já contou com os seguintes integrantes: Bill Wyman (baixo – deixou a banda em 1990), Mick Taylor (guitarra – deixou a banda em 1974) e, fi nalmente, Ian Stewart (piano) e Brian Jones (guitarra), falecidos em 1969 e 1985, respectivamente.

O nome foi baseado no título de uma música de Muddy Waters “Rollin’ Stone” e a banda foi formada em
1962. Na época já se autodenominavam a “melhor banda de Rock & Roll”. Além da música, a atitude e o visual dos músicos foram 100% rock, desde o início. Eles eram bad boys assumidos, não tinham vergonha de fazer um som mais agressivo, com letras tão agressivas quanto. O sex appeal foi usado e abusado, na música e na atitude, principalmente do vocalista, que carrega o status de homem de várias mulheres.

Mick Jagger e Keith Richards se conheceram na escola primaria de Dartford Maypole County. Voltaram a se esbarrar em 1960, dez anos depois, quando já eram fãs de blues e R&B. O guitarrista Dick Taylor era um amigo em comum. Junto com Jagger, ele tocava em locais como Little Boy Blue and the Blue Boys. Richards juntou-se então à banda como segundo guitarrista.

rolling1Enquanto isso, Brian Jones, que voltava da Escandinávia onde começou a tocar guitarra, ingressou no grupo Ramrods, no qual tocava saxofone, e participou com Alexis Korner da banda Blues Incorporated. Foi após isso que decidiu começar sua própria banda, divulgando um anúncio em uma revista de música que obteve a resposta de Ian Stewart. Trabalhando no Ealing Blues Club, Brian reencontra a Blues Incorporated, que na época incluía o baterista Charlie Watts e contava com algumas participações de Jagger e Richards.

Nessa época, Jones, Jagger e Richards partilhavam um pequeno e barato apartamento em Londres e, com o baterista Tony Chapman, fizeram uma fita demo que foi rejeitada pela EMI. Com a participação de Dick Taylor formaram então os Pretty Things, nome que foi posteriormente substituído por The Rolling Stones. Em 12 de julho de 1962, os Rolling Stones – Jagger, Richards, Jones, Dick Taylor e Mick Avory – fi zeram seu primeiro show no Marquee. Posteriormente Avory e Taylor foram substituídos por Tony Chapman e Bill Wyman. Como Chapman não deu certo, o grupo demorou meses para recrutar Charlie Watts, que trabalhava para uma agência de publicidade e tinha deixado o Blues Incorporated quando a sua agenda fi cou muito ocupada. Em janeiro de 1963 Watts completou os Rolling Stones.

Até então, outro grupo britânico fazia sucesso – The Beatles. Mas o empresário Andrew Loog Oldham resolveu apostar na nova banda e promover os Stones como os opostos desagradáveis dos queridinhos e bons moços dos Beatles. Em junho de 1963 os Stones lançaram seu primeiro single, “Come On”, de Chuck Berry. Após isso a banda apresentou-se no show de rock da TV britânica “Thank Your Lucky Stars”, onde Oldham foi aconselhado a se livrar do vocalista de aparência vil e com lábios de pneus. “Come On” alcançou a 21ª posição na parada britânica.

Em dezembro de 1963 os Stones lançaram seu segundo single, “I Wanna Be Your Man” (escrito por John Lennon e Paul McCartney), que fez a banda entrar no Top 15 britânico. Em janeiro de 1964 fi zeram sua primeira turnê britânica como a atração principal, junto com as Ronettes, e lançaram uma versão de “Not Fade Away”, de Buddy Holly, que alcançou o número três das paradas britânicas e 48 nas paradas dos Estados Unidos.

rolling2Em abril de 1964 o primeiro álbum da banda, The Rolling Stones, foi lançado no Reino Unido e dois meses depois fi zeram a primeira turnê nos Estados Unidos, que foi um sucesso recheado de polêmica. Em Chicago eles pararam para gravar o single “Five by Five”, no estúdio Chess Records. Aconteceram, porém, protestos quando a banda se preparava para dar uma coletiva de imprensa, pois a versão dos Stones do blues “Little Red Rooster”, que se tornou número um no Reino Unido, foi proibida nos Estados Unidos por causa de sua letra “censurável”.

O próximo single da banda foi “(I Can’t Get No) Satisfaction”, que fi cou no número um das paradas durante o verão e continua a ser uma das mais emblemáticas músicas dos Rolling Stones. E a dupla Jagger e Richards seguiu escrevendo sucessos de letras picantes.

Foi em 1968 que os Rolling Stones gravaram uma das suas músicas mais icônicas, e que mais marcaram a carreira e corroboraram a imagem de meninos maus que eles carregam até hoje: “Sympathy for the Devil”. A canção foi gravada no estúdio Olympic Sound em Londres sem os famosos “woo woo” que foram adicionados mais tarde em Los Angeles. Posteriormente ela foi regravada por outras bandas consagradas de rock, como Guns n` Roses e Jane`s Addiction. Jagger comentou muito tempo depois que Richards sugeriu que os Stones tocassem “Sympathy for the Devil” em outro ritmo. Mas, para nossa sorte, a sugestão não foi aceita. A gravação emblemática da música, feita em dezembro de 1968 no especial para televisão “Rock and Roll Circus”, só foi lançada em 1996.

Após esse período os Rolling Stones entraram num hiato de produção e lançaram então o álbum ao vivo “Get Yer Ya-Ya’s Out!”, que foi o último do grupo para o selo Decca / London. Eles formariam então a Rolling Stones Records, subsidiária da Atlantic Records.

Em 1971 foi lançado o primeiro álbum dos Stones pelo novo selo – “Sticky Fingers”. Depois desse lançamento a banda fez um exílio forçado na França, pois estavam devendo mais em impostos no Reino Unido do que tinham condições de pagar. Lá gravaram um álbum duplo, “Exile on Main Street”, lançado em maio de 1972. O trabalho foi muito criticado, mas com o tempo passou a ser considerado um dos momentos decisivos do grupo.

Após “Exile on Main Street”, a banda começou a se dividir, com Jagger preocupado em ser celebridade e Richards se afundando nas drogas. A banda continuou sendo popular, mas sem tanto apoio da crítica, que não recebeu bem os dois próximos álbuns “Goats Head Soup”, lançado em 1973, e “It’s Only Rock ‘n’ Roll”, em 1974, apesar dos dois terem chegado ao número 1 das paradas de sucesso.

Em seguida ao lançamento de “It’s Only Rock ‘n’ Roll”, Taylor deixou a banda e o grupo gravou então seu próximo álbum, “Black ‘n Blue”, ao mesmo tempo em que testou novos guitarristas. E foi o ex- guitarrista do Faces e de Rod Stewart, Ron Wood, que conquistou a vaga em 1976, mesmo ano em que foi lançado “Black n’ Blue”.

No fim dos anos 1970 quase todos os Stones seguiam carreiras paralelas, com Wyman e Wood lançando discos solo regularmente. Nessa época, Richards foi preso no Canadá por posse de heroína.

Em 1978 a banda gravou “Some Girls”. Tanto o disco quanto o single da primeira faixa, “Miss You”, chegaram ao topo das paradas. Já seu sucessor “Emotional Rescue”, lançado em 1980, foi recebido com críticas mornas.

“Tattoo You”, lançado no ano seguinte, saiu-se melhor, tanto na opinião da crítica quanto comercialmente. Os singles “Start Me Up” e “Waiting on a Friend” ajudaram o álbum a passar nove semanas na posição número um. Esse álbum contou com uma grande turnê, que foi registrada em vídeo para o fi lme “Let’s Spend the Night Together”, de Hal Ashby e no álbum ao vivo de 1982, “Still Life”.

Os trabalhos que se seguiram, nos anos 1980 e 1990, não surtiram tanto efeito. Enquanto seguiam vendendo shows, os álbuns fracassavam nas vendas, em parte por causa da conhecida rixa entre Jagger e Richards. Afinal, enquanto este queria manter o grupo seguindo as raízes do rock, Jagger queria que a banda seguisse as novas tendências. “Dirty Work”, lançado em 1986, sofreu muito com esse desentendimento na banda, já que Jagger decidiu que o álbum não ganharia uma turnê, em detrimento da carreira solo do vocalista.

Richards resolveu então também lançar trabalho solo, mas ao contrário do que acontecia com os discos do seu companheiro de banda, “Talk Is Cheap” recebeu boas críticas. Os dois músicos se reuniram novamente em 1988.

Em 1989 foi lançado “Steel Wheels”, que foi saudado com boas críticas e ganhou uma turnê de suporte que arrecadou mais de 140 milhões de dólares e quebrou muitos recordes de bilheteria. Em 1991 veio a gravação ao vivo “Flashpoint”, com material capturado na turnê de “Steel Wheels”. Após esse lançamento Bill Wyman deixou a banda.

A banda voltou a se reunir em 1994, quando lançou Voodoo Lounge, recebendo ótimas críticas e com uma turnê ainda melhor sucedida que a de “ Steel Wheels”, o que fez com que os Stones recebessem seu primeiro Grammy de Melhor Álbum de Rock.

Após a turnê de Voodoo Lounge a banda gravou em 1995 o álbum acústico “Stripped”. Depois veio outro álbum ao vivo, “No Security”, em 1998. Em 2002 aconteceu mais um tour de sucesso e em 2004 outro álbum ao vivo – “Live Licks”. Em 2005 o grupo faria o terceiro álbum com produção de Don Was – “A Bigger Bang”.

Em 2006, Martin Scorsese fi lmou duas apresentações do grupo na cidade de Nova Iorque. O resultado foi “Shine a Light”, que contou com a participação de Buddy Guy, Jack White e Christina Aguilera e foi lançado nos cinemas em 2008. A trilha sonora que o acompanha alcançou o segundo lugar nas paradas britânicas.

Em 2010 Keith Richards lançou sua autobiografia, “Life”. No mesmo ano o grupo lançou a edição de “Exile on Main Street”, contendo um disco bônus de raridades e faixas anteriormente não aproveitadas (outtakes).

O aniversário de 50 anos da banda chegou em 2012, comemorado com o lançamento de um livro de capa dura sobre a carreira do grupo, um novo documentário chamado “Crossfi re Hurricane” e uma nova compilação chamada “GRRR!” E, é claro, turnês com várias participações especiais que se seguiram até o primeiro semestre de 2013.

CURIOSIDADES

– Michael Philip Jagger é o nome completo de Mick Jagger, que começou a cantar ainda pequeno em um coral de igreja.

– O baterista Charlie Watts, além de tocar nos Stones, tem também uma banda de jazz.

– Quando Andrew Loog Oldham se tornou empresário da banda, ele tinha apenas 19 anos de idade. Foi ele quem convenceu Mick Jagger e Keith Richards a compor suas próprias músicas.

– Em dezembro de 1981, durante um show realizado no Hampton Coliseum, em Virgínia, EUA, Keith Richards golpeou com sua guitarra um fã que invadiu o palco durante a execução de “(I Can´t Get No) Satisfaction”. Ele explicou, anos mais tarde, que fi cou com medo do que o fã pretendia fazer com Mick Jagger.

– Bill Wyman deixou o grupo após a turnê de “Steel Wheels/Urban Jungle Tour”, em 1990, mas sua saída foi anunciada apenas em dezembro de 1992. Darryl Jones, conhecido músico de estúdio dos Estados Unidos, assumiu o posto, mas como músico contratado.

– Antes de se juntar aos Rolling Stones, Ron Wood começou a carreira com o grupo The Birds, tocou baixo no Jeff Beck Group e formou o The Faces, ao lado de Rod Stewart.

– Bill Wyman comentou certa vez que “(I Can’t Get No) Satisfaction”, um dos maiores hits do grupo, foi lançado como single depois de uma votação interna, vencendo por três votos a dois. Wyman, Charlie Watts e Brian Jones votaram a favor, enquanto que Keith Richards e Mick Jagger decidiram contra, alegando que a música não era comercial.

– Em 1968 os Stones decidiram montar um caminhão com estúdio para gravarem em qualquer lugar e a qualquer momento.

– Keith Richards, Eric Clapton e John Lennon já formaram uma banda chamada de Dirty Mac, que durou apenas uma participação na TV, em 11 de dezembro de 1968, para o programa “The Rolling Stones Rock and Roll Circus”, e colocou Keith no baixo, acompanhado por Mitch Mitchell, baterista do The Jimi Hendrix Experience.

– Em 2006, o guitarrista Keith Richards escalou um coqueiro enquanto passava férias em Fiji e caiu, o que criou um coágulo em seu cérebro e o deixou próximo da morte.

– “Some Girls”, álbum de 1978, é o disco mais vendido da carreira dos Stones, com mais de seis milhões de cópias comercializadas.

– O saxofonista Bobby Keys, mesmo não sendo membro oficial dos Stones, acompanha o grupo há anos. É um dos melhores amigos de Keith Richards e participou dos discos “Let It Bleed”, “Sticky Fingers”, “Exile on Main Street”, “Goats Head Soup”, “Emotional Rescue” e “Stripped”.

– Ron Wood é também pintor, tendo sido premiado na infância por seus desenhos no programa “Sketch Club”, do canal BBC.

– A modelo italiana Anita Pallenberg namorou três Stones. O primeiro foi Brian Jones, quando o conheceu em Munique, em 1965. Largou-o em 1967 para ficar com Keith Richards, com quem teve três fi lhos – Marlon, Angela e Tara. Anita também teve um caso com Mick Jagger, em 1968.

– A ilustração da boca escancarada com a língua para fora que se tornou uma das marcas da banda foi inspirada na boca do vocalista. O criador foi o designer John Pasche, então estudante do Royal College of Arts de Londres, que a fez em 1970. Em 2008, a arte original foi comprada pelo museu de design V&A por R$ 186,7 mil.

– Discografia: Ao todo são 29 álbuns de estúdio (contando versões norte-americanas e inglesas), 17 discos ao vivo e 30 coletâneas.

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