8 de agosto de 2016

Sala São Paulo

A sala de concertos que está entre as 10 melhores do mundo e que foi feita em uma estação de trem.

Carregada de história, a Sala São Paulo está localizada na Estação Júlio Prestes, construída em 1938. Ela estava entre as obras feitas para melhorar a infraestrutura do transporte ferroviário no Brasil, que gora instalada no país em meados do século XIX para fazer o transporte da produção de café e algodão do interior do estado de São Paulo até o porto de Santos.

Após muitas dificuldades enfrentadas pelas companhias Ituana e Sorocabana, criadas por produtores insatisfeitos com o monopólio da São Paulo Railway Company, frequentes mudanças de administração, problemas econômicos e guerras, foi criada em 1971 a FEPASA (Ferrovia Paulista S.A.) para agregar todas as empresas estatais paulistas de transporte ferroviário. Os problemas, porém continuavam e a cada ano eram mais desafiadores.

Havia um plano de ampla reestruturação: desativar os trechos deficitários das ferrovias e concluir obras inacabadas, plano este que não foi o suficiente para reverter o processo de decadência do sistema por falta de recursos e investimentos. Então, em 1º de abril de 1998 o Governo do Estado de São Paulo entregou a Fepasa à União como forma de quitar dívidas e cedeu o direito de uso da Estação Júlio Prestes à Secretaria  de Estado da Cultura de São Paulo. A partir desse momento o local começou a ser restaurado e tornou-se um complexo cultural, sendo também a casa da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), administrada pela Organização Social de Cultura (OSC) da Fundação OSESP.

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Nelson Dupré foi o arquiteto responsável pelo restauro e readequação da Sala São Paulo. Ele foi convidado, no início de 1997, a participar da concorrência para a restauração da Estação Júlio Prestes e sua adequação para o uso da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. “Os desafios me pareciam muito grandes: isolamento e tratamento acústico, restauração e nova arquitetura. Minha experiência prévia e, restauração e projetos de teatros e auditórios não me pareceu suficiente, e busquei complementá-la visitando salas de concertos citadas como referência na América do Norte e Europa, estudando seus palcos, sistema acústicos, áreas de apoio, acessos e fluxos, sentindo como elas soavam, vazias ou em concertos.”, explica Nelson em um texto de sua autoria.

Contudo, Dupré explica que aconteceram diversas divergências entre seus desejos e a consultoria acústica norte-americana, a cargo da Artec, que havia definido alguns padrões para a ocupação do antigo Grande Hall da Estação como sala de concertos. O arquiteto fala que alguns ajustes foram bem recebidos, outros nem tanto, como o “total recobrimento da parte inferir da sala por um balcão corrido e painéis acústicos, que em absoluto garantiam a valorização daquele patrimônio”. Ele explica que, nesse debate entre necessidades arquitetônicas e parâmetros acústicos foi fundamental o apoio do consultor acústico brasileiro José Augusto Nepomuceno e dos profissionais do Condephaat, até chegarem à solução de balcões individualizados, ao invés de um balcão contínuo, solução oferecida pela consultoria norte-americana.

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“Todos os detalhes foram exaustivamente pensados. Parecia-me importante chegar a um desenho simples e coordenado para os novos componentes do espaço, evitando interferências com a arquitetura existente. Na madrugada do último dia de uma semana de discussão com a Artec, em Nova York, sentado na cama do hotel, insone, me ocorreu a ideia que seria adotada para revestir os balcões e os módulos do forro da sala. O conceito é simples: se o ponto de emissão do som no palco for fixo, para se ter uma reflexão sonora multidirecional sempre diferenciada, basta se ter um mesmo elemento multifacetado que se repita em todas as faces de todas as novas superfícies”, relembra Dupré sobre a obra que ele considera a mais significativa de sua vida.

O resultado final, segundo o arquiteto, só foi possível graças a uma equipe técnica altamente motivada, com arquitetos participando diretamente na obra, com destaque para a arquiteta Luizette Davini que “no comando desse escritório e na coordenação do projeto, me deu a liberdade necessária para pensar, voar e poder brincar de ser arquiteto como sempre sonhei”, avalia Dupré.

A coroação de tanto esforço veio no ano 2000, quando o projeto da Sala São Paulo recebeu o prêmio de honra da USITT – United States Institute for Theatre Technology. “Foi uma grande satisfação, ouvir o arquiteto Richard Blinder, responsável pela recente restauração da Grand Central Station de Nova York, enquanto apresentava dispositivos da obra, anunciar o prêmio diante de uma plateia de 1.500 pessoas, dizendo ser a obra merecedora da distinção ‘pelo impressionante trabalho de arquitetura efetuado ao transformar uma estação ferroviária em operação em uma fantástica sala de concertos, com os incríveis desafios de acústica que a obra apresentava’. Era a primeira sala de concertos do Brasil e já havia um reconhecimento internacional da sua excelência”, comemora Nelson Dupré.

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ACÚSTICA

O forro móvel sozinho é um dos destaques, mas não é sozinho que faz a acústica da Sala São Paulo ser admirada, conforme explica José Augusto Nepomuceno, consultor de acústica do projeto de restauro e readequação do local.

“A geometria da Sala, a disposição dos balcões, o desenho das frentes dos balcões, o posicionamento do palco, a inexistência de carpetes ou cortinas, a espessura da madeira do palco, o desenho das poltronas, paredes pesadas, as irregularidades da arquitetura eclética do edifício existente compõem na Sala São Paulo um importante elenco de pequenas contribuições absolutamente fundamentais para a qualidade do seu clima acústico”, explica José Augusto.

Segundo Nepomuceno, se a sala tivesse o forro móvel correto, mas todos os demais elementos fossem incorretos, a qualidade do clima acústico seria muito inferior. “Mas se a Sala tivesse um forro fixo, com uma altura correta, e com todos os demais elementos corretos, seria menos versátil, a arquitetura existente seria menos valorizada e, mesmo assim, poderia chegar a ser acusticamente excelente”, avalia.

Para atender uma demanda mais ampla de espetáculos de forma mais fiel e acusticamente perfeita possível e para ser uma “sala de referência”, objetivo da Sala São Paulo, optou-se pela arquitetura variável e pela acústica ajustável. O forro móvel foi a escolha feita, pois proporciona uma excelente flexibilidade acústica, já que o deslocamento faria variar o volume da Sala, criando ademais um ‘espaço acústico acoplado’, informa o site local.

“O som atinge não só o forro, mas o espaço acoplado, e com isso podem ser alteradas algumas nuances na resposta acústica da Sala. A potência e as características de reverberação deste espaço acoplado podem ser sintonizados por meio de bandeiras acústicas de veludo, que são acionadas ou recolhidas a partir de mecanismos situados no piso técnico. Tais bandeiras, por estarem acima do forro móvel, não são vistas pelos ouvintes, mas sua presença é certamente ouvida”, explica José Augusto.

O forro móvel é composto por quinze painéis com espaçamento estrategicamente definido. É a sua movimentação que permite o aumento controlado do volume da Sala e de seu tempo de reverberação. Essa variação no tempo de reverberação é importante, pois cada tipo de musica foi criado para um tipo de espaço e, portanto, com características diferentes de reverberação.

PROJETO DESCUBRA A ORQUESTRA

O projeto “Descubra a Orquestra”, realizado na Sala São Paulo, é um projeto de iniciação musical dedicado a alunos e professores de escolas públicas, particulares e instituições beneficentes. Ele oferece diversas ações educativo-musicais, com o objetivo de ampliar e fortalecer o desenvolvimento cultural e musical de alunos e professores inscritos através do Cursos de Formação de Professores, Formação de Público e Atividades na OSESP.

ENTRE AS 10 MELHORES DO MUNDO

Em março de 2015 o jornal britânico The Guardian divulgou uma lista com as 10 melhores salas de concertos do mundo. Entre as escolhidas está a Sala São Paulo.

 

Fonte: Revista Som Maior – Ano 04 – Edição 12 – Dezembro 2015

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